a minha vida dava um livro

a minha vida dava um livro #02 - a minha infância

07:00



Eu nasci em Faro, a minha mãe era cabeleireira e o meu pai era professor. Ambos se saturaram dessas profissões e aproveitaram para abrir cada um à sua loja, na mesma rua, por sinal. A minha mãe tinha uma sapataria e o meu pai tinha uma loja de jogos, o Planeta dos Jogos, que eu adorava.

Eu saia da escola e ía brincar para as lojas deles até ser horas de irmos para casa. Tinha uns 4/5 anos, com umas bochechas enormes, cabelo quase preto cheio de caracóis, sempre com cara trancada e correr a loja do meu pai dum lado para o outro em cima do triciclo e com um feitiozinho terrível. Era má, tenho que admitir!

Lembro-me tão bem... Não gostava que os clientes mexessem nas coisas que o meu pai tinha à venda na loja. Começava a pedalar o mais rápido que conseguia, batia-lhes nas canelas com o triciclo, tirava-lhe o jogo ou jogos da mão e com ar autoritário dizia que não podia mexer naquilo porque era do meu pai. Os clientes não podiam ir à casa-de-banho que era dentro da arrecadação porque quando tentavam sair davam de caras com a arrecadação trancada e lá ía o meu pai a correr salvar-lhes da peste que eu era.

Na escola, os meus pais eram chamados porque, quase todos os dias, havia queixas de que eu tinha mordido nalgum coleguinha. Coitados...

É engraçado porque, hoje, quando me vêm, ainda me contam essas histórias e com olhar de satisfação dizem que não pareço aquela miúdinha traquinas.

Nesta altura comecei a implorar para que me dessem uma irmã e, um dia, quando a minha mãe me foi buscar ao infantário para irmos para a loja, ela deu-me a notícia de que eu ía ter, finalmente uma irmã. Recordo-me que ía de mão dada com ela mas que fui o caminho todo aos saltos até chegarmos à loja.

A minha irmã nasceu, o Planeta dos Jogos entrou em crise na altura em que se começou a ouvir falar em pirataria. E ele, decidiu regressar à sua cidade, Águeda, onde temos os nossos avós paternos, tios, primas, etc.. E eu, a minha mãe e a minha irmã ficámos em Faro até ele se organizar por lá.

Quando eu andava no primeiro ano da escola, a meio, largámos tudo cá em Faro e o meu pai levou-nós também para Águeda, para junto da nossa família.

A ironia da história é que, ao fim de mais ou menos 3 anos, ele não se adaptou bem ao clima, as coisas não correram bem no trabalho então, os meus pais voltaram para Faro. Eu e a minha irmã ficámos a ficar com os meus avós até eu completar o quarto ano da escola.

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